É preciso mais
Domingo foi um dia triste, mais do que triste, foi um dia mau, mesmo mau, mais do que as palavras alguma vez conseguirão dizer.
De facto as alterações climáticas a que temos vindo a assistir agravam a situação e aumentam a probabilidade de situações como a de Pedrógão e do passado domingo se repetirem, mas isso não diminui a nossa responsabilidade. É preciso mais.
Portugal é assolado por uma espécie de terrorismo florestal, com grupos organizados, conscientes das condições climatéricas adversas que dificultarão o combate às chamas, movidos por interesses financeiros. Todos sabemos disso e só não vê quem não quer ver. Reconheço que sim, que há ignições que resultam, efetivamente, de um conjunto de condições atmosféricas adversas, mas a maioria, a esmagadora maioria das ignições em Portugal têm mão criminosa e como tal é preciso mais.
Depois de, no domingo, ter ido dormir a avistar as chamas e de ter acordado com o cheiro a queimado impregnado em todo o lado e cinzas a cobrir o chão, a revolta instala-se. Já fui bombeira, conheço o desespero, o esforço hercúleo em salvar aquilo que é dos outros e aquilo que é de todos, a dor e as lágrimas de quem vê arder o que levou uma vida a construir, a nossa dor e lágrimas por não conseguirmos fazer mais, mesmo após 12 horas de combate ininterrupto, com tudo o que isso implica.
É preciso mais.
É preciso repensar o ordenamento de território, é preciso reflorestar com recurso a mais espécies além dos eucaliptos, é preciso recuperar os guardas florestais, é preciso condenar os incendiários, é preciso regular a indústria da madeira, condenando os que ganham com a madeira ardida, é preciso limpar os terrenos, recorrendo a presidiários, militares ou atribuir subsídios para a limpeza, é preciso reconhecer que há pessoas que vivem do que a terra lhes dá e protegê-las efetivamente, é preciso meios de combate.
É preciso mais, muito mais. E isso passa por todos nós, não só pelo Governo.